Cumprindo medida judicial do estado do Espírito Santo para interromper a gestação de uma menina de 10 anos que foi estuprada pelo tio, o médico Olímpio Barbosa de Moraes Filho lamentou os protestos contra o procedimento, ocorrido neste domingo, dia 16 de agosto de 2020, e contra o qual se colocaram grupos religiosos pró-vida. Em entrevista à BandNews, o profissional comentou que sua reação aos movimentos “foi de tristeza”.
“Pessoas que defendem a vida chamando a criança de assassina, querendo fazer justiça dessa forma, logo em uma maternidade que acolhe mulheres em risco, fazendo barulho em um hospital com 104 mulheres internadas. Nunca passei por nada parecido”, declarou o médico.
Segundo Olímpio Barbosa, são realizados cerca de 50 procedimentos relacionados ao estupro por ano no Centro Integrado de Saúde Amaury de Medeiros (Cisam-UPE), em Pernambuco, onde a criança capixaba foi atendida. Ainda de acordo com o médico, é comum meninas de 11 a 12 anos procurarem assistência médica para uma gravidez vinda de uma violência sexual.
“Se nós não fizéssemos nada, o Estado brasileiro estaria conivente com a dor e a violência. O mais importante é que ela não queria, foi torturada, obrigar uma criança a ter uma gravidez forçada é um absurdo”, observou.
O médico gestor do Cisam-UPE afirmou ainda que o caso da menina de 10 anos é raro, por não ser comum uma criança desta idade ovular e possibilitar uma gravidez, e disse que, se a gestação não fosse interrompida, provavelmente ela teria complicações por não ter um corpo desenvolvido.
País da hipocrisia:
O Cisam-UPE é referência no tipo de procedimento e de acolhimento às vítimas, e para Olímpio há uma “hipocrisia” no assunto de interromper gestações vindas de estupros.
Criança passa bem:
A criança de 10 anos que engravidou após ser estuprada pelo tio conseguiu expelir o feto espontaneamente nesta segunda-feira (17), após indução iniciada por médicos do Cisam, no Recife (PE). Agora pela manhã a garota passou por avaliação multiprofissional que analisou a necessidade de uma curetagem para retirar os últimos vestígios do feto, segundo informação do UOL.
A criança está acompanhada pela avó e por uma assistente social que veio com ela do Espírito Santo, onde a garota mora.
“Quando ocorre a indução do aborto pela medicação, às vezes não sai completo; se isso ocorrer, ela deve ser submetida à curetagem ainda hoje. Se tudo seguir bem, ela deve ter alta amanhã”, explica Benita Spinelli, coordenadora de enfermagem da unidade.
A menina foi para o Recife depois que o Hospital Universitário Cassiano Antônio Moraes, em Vitória (RS), se recusou a realizar o aborto. Segundo reportagem do Fantástico, a equipe da unidade alegou que já passava do tempo de gravidez em que o aborto é permitido, mesmo com autorização judicial afirmando que é legítimo e legal o aborto acima de 20/22 semanas no casos de gravidez decorrente de estupro, risco à vida da mulher e feto com anencefalia.
A enfermeira contou que o processo de aborto demora horas, mas até agora tudo segue conforme se espera.
“Para se fazer esse procedimento, existe uma sequência. Assim que ela chegou, foi feita a indução, mas isso leva algumas umas horas. Ela já expulsou, na verdade, e agora está sendo atendida por essa equipe multiprofissional”, explica.
A coordenadora classificou de “balbúrdia” os protestos diante do hospital, que tentaram impedir o aborto da criança.
“Uma coisa completamente contraditória; pessoas fazendo esse tipo de atividade na porta de um hospital, que é um local que requer silêncio, tranquilidade, ainda mais por ser uma criança de 10 anos, que há quatro anos era estuprada, que teve de sair para outro estado para ter seu direito garantido”, criticou.
“Nós temos que poupar ela dessa balbúrdia que foi feita ontem na porta de um hospital”, diz ela, ressaltando que se trata de uma menina em situação extremamente vulnerável, que foi protegida como possível do que aconteceu do lado de fora. Nesta segunda, o local estava tranquilo, sem manifestantes.
Ataques recorrentes:
Segundo a Polícia Civil, a menina era vítima de estupros desde quando tinha 6 anos de idade. No último dia 7, acompanhada de uma tia, ela deu entrada em um hospital público de São Mateus, a 220 km de Vitória, afirmando acreditar que estava grávida, o que foi confirmado por exames.
A menina contou então que era vítima de abusos há quatro anos, mas não denunciava o tio por conta de ameaças que sofria. O suspeito de 33 anos foi indiciado por estupro de vulnerável e ameaça. Ele está foragido.
Buscas na Bahia:
Segundo o portal G1, a polícia do Espírito Santo chegou a fazer buscas pelo suspeito no Sul da Bahia. Ele chegou a morar em Ibirapuã, antes de se mudar para a cidade capixaba.
Procurada pelo CORREIO para saber detalhes das buscas na Bahia, a Secretaria de Segurança Pública do Espírito (SESP) informou em nota que, “no que lhe compete, tem empenhado esforços no sentido de localizar o autor do crime e dar cumprimento ao mandado de prisão expedido pela justiça em seu desfavor”.
“A Polícia Civil, por meio da Superintendência de Polícia Regional Norte (SPRN), com o apoio da Superintendência de Polícia Especializada (SPE), tem realizado buscas de forma incansável e sem prazo determinado. (…) O inquérito policial que investigava o caso, instaurado na Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher (Deam) de São Mateus, foi concluído na última quinta-feira (13), e o suspeito, de 33 anos, foi indiciado pela prática dos crimes de ameaça, previsto no artigo 147 do Código Penal, e de estupro de vulnerável, previstos no artigo 217-A do Código Penal, ambos praticados de forma continuada.
Policiais civis de São Mateus fizeram buscas em possíveis endereços onde o suspeito poderia estar escondido, no entanto, ele não foi localizado e passou a ser considerado foragido. Cabe destacar que qualquer agência de segurança pode cumprir o mandado de prisão”, destaca a nota, sem informar se a polícia da Bahia participou das buscas.
Ainda segundo o governo capixaba, “neste momento não há incursões sendo realizadas no Estado da Bahia” e denúncias que auxiliem no trabalho da polícia e contribuam para localização de suspeitos podem ser feitas por meio do Disque – Denúncia 181 ou pelo disquedenuncia181.es.gov.br.
Fonte: Correio24horas
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