O piritibano Adaelson Alves Silva (Dr. Adaelson) traz mais uma crônica nesta quarta-feira, dia 13 de janeiro de 2021. Este é o segundo episódio da série “Um Dedo de Prosa”. Todas as quartas o blog Repor News Bahia publicará um texto produzido por Dr. Adaelson. Vale a pena conferir e se divertir
Veja:
“A esperança e a sogra são as últimas que morrem”.
Não sou de prosa de coisa triste, mas o momento carece de contar umas verdades: a primeira é que no meu tempo de infância não havia caixão de defunto pronto para venda. O marceneiro era chamado pela família para confeccionar o dito cujo. A madame deve estar a perguntar se todo mundo tinha condições de pagar esta conta? Naturalmente a resposta é não.
– E então, como enterravam os mortos carentes?
– A criancinhas (os anjinhos) eram levadas para o seu último túmulo numa caixa de sapatos cobertos com flores de bonina ou outra de época.
– E os adultos, “macho velho”, como eram levados e enterrados?
– Era tanta pobreza e criatividade, que lá no cemitério tinha um caixão chamado de “caixão da misericórdia”.
– Pode explicar sua serventia?
– Claro. O falecido era transportado neste caixão da sua casa até o Campo Santo. Lá chegando, ele (o falecido) era colocado na sua última morada, sem o caixão, que voltava silencioso para o seu lugar, à espera de outro candidato.
– E se fosse uma pessoa “espaçosa”?
– O caixão fora planejado para “gregos e troianos”
– Entendi.
Vou encerrar a minha prosa contando de um enterro que eu assisti. Estou falando do enterro de Joel Preto. Antes, porém, uma breve biografia do falecido, que no seu enterro faltou alça no caixão para tantos amigos interessados em segurá-las.
Para que não conheceu o falecido, vale dizer que a paixão do dito cujo era dirigir. Na verdade, o que ele gostava mesmo era andar de ré.
- Como meu senhor?
- É isto mesmo que a senhora leu. Joel Preto era tarado para dar uma rezinha em qualquer carro. Andar pra frente não era o seu forte. Era capaz de fazer qualquer coisa se você desse o seu carro para ele andar de ré. Uma ocasião ele lavou um ônibus inteirinho só pra dirigir meio metro de ré. Mainard, o dono do ônibus, deu uma colher de chá e deixou Joel andar mais uma meia dúzia de metros.
Um dia Joel bateu com as dez, descansou. No seu velório, ninguém esqueceu da sua paixão. Alguém, não se sabe quem, chegou a propor que o caixão entrasse de ré no cemitério.
- Onde já se viu entrar de ré no cemitério! Deixa de bestagem, menino. Falou outro alguém.
O fato é que o caixão foi carregado pelos amigos e na entrada do cemitério, pra surpresa de todos, deu uma guinada de 180 graus e só entrou de ré. Joel descansou em paz entrando de ré na sua última morada. Que Deus o tenha sempre ao seu lado.
Na quarta-feira, dia 20 de janeiro de 2021, o blog Report News Bahia e Adaelson Silva estarão de volta com mais um episódio da série: “Um Dedo de Prosa”. Não percam!
Report News Bahia
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