Fernando Silva, de 73 anos, o homem responsável indiretamente pelo milésimo gol de Pelé, morreu no sábado, dia 05 de junho de 2021, por volta das 21 horas (horário de Brasília), após infarto fulminante. Ex-zagueiro de Vasco, Bahia, Vitória e entre outros times, ele estava na própria residência, em Maricá, no Rio de Janeiro, quando se sentiu mal. O sepultamento aconteceu neste domingo (06/06) no cemitério municipal de Maricá, às 13h30min.
Revelado pelo Juventus-SP, Fernando cometeu o pênalti em Pelé, que converteu e marcou o segundo gol do Santos contra o Vasco, na vitória por 2 a 1, no Maracanã, em 19 de novembro de 1969. Aquele foi o milésimo gol do Rei do Futebol.
O ex-jogador passou os últimos cinquenta anos vinculado ao lance, embora algumas fontes atribuíssem a Renê, companheiro na zaga do Vasco, a responsabilidade pela penalidade. Em outubro de 2019, ao ser procurado pela reportagem da ESPN Brasil, Fernando assumiu que foi ele o responsável pela “fatalidade”, forma como classifica a suposta falta que fez em Pelé, e não o amigo Renê. E, assim como fez durante 50 anos, sustentava que não ocorreu falta alguma. Culpava o árbitro pernambucano Manoel Amaro de Lima, que teve ajuda do auxiliar de Luiz Carlos de Oliveira, o Cacá (amigo de Fernando), de ter errado.
“Não foi pênalti! O Pelé bate na minha perna e cai. Ele tinha muita habilidade e muita malícia, mas ali ele bateu e caiu. O árbitro, que não sei porque veio de Pernambuco, marcou. O Cacá estava um pouco longe da área, mais para o lado direito da nossa defesa. A visão dele não era boa”, disse Fernando, cinquenta anos depois do lance, para a ESPN Brasil.
A reportagem fez Fernando e Cacá se encontrarem no Maracanã cinquenta anos depois do milésimo gol para esclarecer de vez o lance. Cacá afirmou que a falta foi clara. Portanto, nem meio século depois mudou de opinião.
“Foi pênalti! Sem dúvida, foi pênalti. O Fernando pegou o Pelé por baixo, acertou a perna dele e o derrubou. Eu tive a mesma interpretação do árbitro. E fui até a área para ajudá-lo porque os jogadores do Vasco estavam questionando. Fui para acalmar todos”, disse Cacá.
Naquela entrevista, Fernando admitiu que os jogadores do Vasco não tiveram nenhum orgulho de levar o milésimo gol de Pelé. Disse que foi um peso, quase uma vergonha, que tiveram de tolerar nos dias seguintes. Como exemplo, citou que o goleiro argentino Andrada ficou muito frustrado por quase ter defendido o pênalti e tinha pesadelos. O elenco vascaíno ainda se incomodou com uma camisa dada pelo clube de São Januário a Pelé com o número 1.000 nas costas, iniciativa 100% da diretoria para “festejar o feito”. O fardo durou mais tempo para Fernando. Explicou duas, três, cem vezes o lance. Poucos davam razão para as palavras dele. A cada novo aniversário do milésimo ele era procurado para falar do lance. Chegou a ficar magoado.
“Nos dias seguintes, as pessoas me viam na rua e falavam: ‘Olha lá, o homem que cometeu o pênalti do gol mil do Pelé’. Foi difícil no começo e eu não gostava de falar do assunto. Todo aniversário do milésimo gol aparecia alguém para falar disso. Mas hoje está superado. Consigo falar, lembrar, mas é preciso citar sempre que não foi pênalti”, disse Fernando.
Depois do Vasco, Fernando prosseguiu a carreira. Acabou brilhando na dupla Bahia e Vitória, sendo campeão pelos dois rivais de Salvador. Chegou a defender a seleção de novos do Brasil e jogou profissionalmente por vinte anos.
Maricá passou a ser residência do zagueiro depois que ele se aposentou. Ali, ele encontrou uma missão mais nobre. Ensinava futebol para garotos com dificuldades financeiras. Entendia proporcionar lazer e uma alternativa de vida para tantos e tantos jovens esquecidos. Nos últimos anos, a escolinha teve apoio do América-RJ e muitos jovens viam em Fernando uma referência como ser humano.
“Certamente ele foi. Sempre gentil, atencioso e generoso, mesmo quando a carreira era resumida somente ao lance de 1969.”
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Por Rafael Valente, ESPN de São Paulo (SP).
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