Os corpos encontrados no porta-malas de um carro, com marcas de tortura e de tiros, na segunda-feira, dia 26 de abril de 2021, já foram identificados. Segundo a polícia, são de Bruno Barros da Silva, de 29 anos, e seu sobrinho, Ian Barros da Silva, de 19, ambos executados e deixados na localidade da Polêmica, em Brotas. Tio e sobrinho foram pegos após uma acusação de furtarem produtos alimentícios em um supermercado localizado no bairro de Amaralina. Os familiares dos dois estão inconformados com as mortes.
Segundo eles, funcionários não identificados da loja da rede de supermercado Atakadão Atakarejo foram responsáveis por informar os nomes de Bruno e Ian para traficantes do Comando da Paz (CP), hoje filial do Comando Vermelho (CV), dizendo que eles tinham furtado a loja.
“Ficamos sabendo que um gerente chamou os traficantes da área, que botaram os dois na mala de um carro. Se eles estavam roubando, tinham que chamar a polícia, e não fazer isso”, disse uma das familiares dos rapazes, enquanto aguardava a liberação dos corpos no Instituto Médico Legal (IML) Nina Rodrigues. O nome dela será preservado por segurança.
Fotos que circulam nas redes sociais mostram tio e sobrinho em três momentos. O primeiro logo após eles terem sido flagrados roubando carne na rede de supermercado. Os dois estão agachados numa área interna do estabelecimento, ao lado dos produtos que teriam sido furtados e de um homem, apontado como segurança da loja. O segundo momento mostra tio e sobrinho sentados numa escadaria do Boqueirão. As últimas fotos mostram os corpos, ambos com os rostos deformados por conta dos disparos.
Em nota, a Polícia Civil informou que duplo homicídio é investigado pela 1ª Delegacia de Homicídio (DH/Atlântico), e que já tem indicativo de quem cometeu o crime. Equipes da unidade realizam rondas na região para tentar localizar os suspeitos, mas até agora ninguém foi preso.
⇒Furto:
Bruno era pai de uma menina de dois anos e morava na mesma casa que o sobrinho Ian, no bairro de Fazenda Coutos. Os dois saíram cedo do imóvel, mas não disseram para onde iam. Por volta das 15h30min, chegaram à loja do Atakadão Atakarejo da Rua Jânio Quadros, em Amaralina.
“A família não sabe, de fato, o que fez eles irem parar no lado de lá. Acreditam que os dois estavam passando pelo local e pararam para comprar algo, porque todo mundo pode lembrar que precisa de alguma coisa em casa quando vê um mercado aberto. Acredito que foi isso o que aconteceu”, contou um amigo da família, que também terá seu nome preservado.
Ele disse ainda que, após a acusação de furto, Bruno e Ian foram levados para uma área interna da loja e mantidos no local por um segurança.
“Ficamos sabendo que um gerente manteve contato com os traficantes, que chagaram lá pouco depois. Eram mais de 10, todos armados, e levaram eles para o Boqueirão. Lá, deram mais de 30 tiros de metralhadoras, pistolas, escopeta e ainda deram facadas. Não era para nada disso ter acontecido. Se eles estavam roubando, chamassem a polícia, quem é responsável pela segurança pública”, lamentou.
Os corpos foram localizados no mesmo dia da morte, na segunda-feira (26/04), pela Polícia Militar. Guarnições da 26ª Companhia Independente da PM (CIPM/Brotas) foram acionadas, após denúncia de que havia um carro abandonado no Parque Bela Vista, Rua Direta da Polêmica, por volta das 17 horas. No local, os policiais militares encontraram tio e sobrinho no porta malas do veículo.
“A família toda estava aflita, porque eles não voltaram pra casa. Quando as fotos deles começaram a circular nas redes sociais, foi um sinal de que algo de ruim havia acontecido com eles. Soubemos que dois homens foram encontrados mortos dentro de um carro e a família decidiu vir ao IML”, disse um amigo das vítimas.
⇒Supermercado:
A reportagem do Correio 24 Horas esteve na loja do Atakadão Atakarejo de Amaralina. Duas funcionárias, que não tiveram seus nomes expostos, confirmaram o ocorrido.
“Sim, aconteceu. Mas não precisavam fazer uma crueldade dessas. Isso foi desumano”, disse uma.
“Eles foram pegos, de fato, furtando, mas teriam que ter chamado a polícia”, disse outra.
Clientes que frequentam o local também recriminaram a possibilidade de traficantes terem sido chamados para matar os rapazes.
“Uma selvageria. É a minha definição. E temos polícia para quê? Enfeite? Se as pessoas erram, precisam se acertar com a justiça e não esse absurdo. Fiquei sabendo disso, mas não sabia que tinha acontecido aqui. Se soubesse antes, nem viria”, disse uma dona de casa de 53 anos, logo após deixar a loja.
Do lado de fora, a reportagem também ouviu uma diarista de 45 anos.
“Isso foi uma monstruosidade. Os monstros não são só aqueles que fizeram isso, mas também quem compactua. Espero que a polícia e a direção da loja punam todos”, disse ela.
O Correio tentou contato com a gerência da loja, que não quis se manifestar. Por meio da assessoria de comunicação, a rede de supermercado informou que “o Atakarejo é cumpridor da legislação vigente, e atua rigorosamente comprometido com a obediência às normas legais. Não compactua com qualquer ato em desacordo com a lei”.
Acrescentou ainda que “especificamente em relação aos fatos questionados, tratam-se de fatos que envolvem segurança pública e que certamente serão investigados e conduzidos pela autoridade pública competente”.
Fonte: Correio 24Horas.
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