Um dos principais símbolos da cultura da Bahia, as baianas de acarajé foram atingidas em cheio pelos efeitos econômicos da pandemia de coronavírus. Para socorrer as profissionais que ficaram sem uma fonte de renda estável nas últimas semanas, uma vaquinha virtual foi iniciada pela Associação Nacional das Baianas de Acarajé (Abam) com o objetivo de arrecadar R$ 35 mil até o dia 21 de maio.
A campanha foi lançada na quarta-feira, dia 22 de abril de 2020, organizada por Rita Santos, presidente da Abam. Até a manhã da quinta-feira (dia 23), 11% do valor total haviam sido arrecadado. Foram 70 doadores, que, juntos, contribuíram com R$ 3.755. Para doar, é preciso entrar no site, clicar no botão “contribua” e definir o valor. O processo pode ser feito por boleto ou cartão de crédito.
“Está muito difícil. Desde o dia 20 de março elas pararam de trabalhar. A maioria delas é chefe de casa, sobrevive daquele tabuleiro. Tem baiana que vende de manhã para comer a janta. O problema maior é que algumas delas têm muitos filhos, o que deixa a situação ainda mais difícil. Não tem ninguém na rua, não tem para quem elas possam vender”, contou Rita Santos.
Antes de lançar a campanha em um site de crowdfunding, Rita havia disponibilizado os próprios dados bancários em uma rede social para buscar doações. Com uma ajuda que veio de fora da Bahia, ela conseguiu criar a vaquinha virtual em uma plataforma especializada na modalidade de arrecadação.
“Eu já tinha começado uma campanha que as pessoas estavam depositando na minha conta de pessoa física. Aí um jornalista de São Paulo me ligou e disse que ia me ajudar, mas não sabia de que maneira. Ele voltou a me ligar depois e disse que tinha pensado nessa vaquinha. Tomou todas as providências, montou tudo e lançou a vaquinha”, explicou.
O valor arrecadado pela campanha será convertido em itens de necessidade básica para as baianas de acarajé. Segundo a presidente da Abam, a ideia é converter as doações em cestas básicas, mas algumas baianas pedem outros produtos, como botijão de gás, que é essencial para o funcionamento dos tabuleiros.
“A ideia é cesta básica. Mas muitas baianas estão pedindo gás. Então, ainda estou pensando em como reverter isso. Vou ver se converso com uma distribuidora para ver se podem me ajudar, eu pago o gás e eles entregam diretamente nas casas das baianas”, disse.
“Neste momento, estou fazendo cesta básica. As pessoas colocam dinheiro na minha conta, vou no supermercado do lado da minha casa, monto a cesta e as baianas vêm na minha casa buscar. Eu preencho uma ficha, elas assinam e eu bato uma foto para comprovar que estou entregando”, disse Rita Santos, que, com 63 anos, faz parte do grupo de maior risco em caso de contágio.
A campanha inclui ajuda para 130 baianas de acarajé de Camaçari, 130 de Lauro de Freitas, 30 de Porto Seguro, 35 de Feira de Santana e 15 de Juazeiro. As profissionais de Salvador também serão ajudadas, mas não há um número definido de baianas na capital baiana.
No fim de março, a prefeitura de Salvador lançou um auxílio para trabalhadores informais que inclui quase 650 baianas de acarajé da capital baiana. Rita Santos destaca que apenas as baianas licenciadas receberão o valor de R$ 270 da gestão municipal, o que deixa milhares de outras profissionais sem qualquer amparo.
“Sempre se falou que existe mais de quatro mil baianas. Mas não é um dado confiável, não sabemos quantas tem de fato. A prefeitura de Salvador está atendendo a 630, mas só as que têm licença ou protocolo, estão recebendo ajuda de custo de R$ 270. Das que trabalham na areia da praia, nenhuma vai receber nada. Elas não têm licença ou protocolo”, conta.
“Na última estatística que fizemos, só na orla, do Porto da Barra até Ipiranga, contamos 550 baianas. Só nessa área. Mas tem a orla do subúrbio, nunca fizemos uma pesquisa. Da prefeitura, elas não vão receber nada”, afirma.
Local de trabalho de muitas baianas de acarajé, as praias de Salvador estão interditadas até o dia 3 de maio. Não existe proibição para a montagem dos tabuleiros nas ruas da capital baiana, mas a estrutura não pode contar com mesas e cadeiras para evitar aglomerações.
Assista ao vídeo:
Fonte: G1 Bahia
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