Os brasileiros consumiram menos carne em 2020 e o principal motivo foi o preço. Na porta do açougue, placas de oferta. Mesmo com as promoções, nem todo do mundo está conseguindo comer carne bovina todo dia.
“Eu levo peixe, eu levo frango, eu levo linguiça, calabresa. Vai variando porque se for só carne, o salário vai só na carne”, diz a auxiliar de cozinha Normélia Gomes.
“O preço quando está alto não tem nenhuma vantagem para nós. Tanto é que nós seguramos os repasses de aumento o máximo que a gente pode para manter esses clientes na loja”, afirma o presidente do Sindicato dos Açougues de Goiás, Sílvio Carlos Brito.
O comerciário Glaydson Aparecido Rodrigues fez a conta do quanto pagava e de quanto custa agora. Ele compra de uma só vez a carne para o mês todo. Desta vez, está levando 20 quilos.
“Em 2018 eu gastava uns R$ 280 e era muito. Hoje gasto R$ 750, tem mês que dá R$ 800, você vê a diferença.”
Mas essa não é a realidade da maioria das famílias. Depois de três anos de estabilidade, o consumo de carne no Brasil caiu em 2019 e 2020. Nesse período, o brasileiro, em média, comeu 4,5 quilos a menos de carne. Existem várias explicações para esta queda no consumo. A primeira é mesmo o preço, que está nas alturas.
Em 2020, as carnes subiram muito acima da inflação. Para Thiago Bernardino de Carvalho, pesquisador da USP, o desemprego recorde e a queda no poder de compra estão afugentando os brasileiros dos açougues.
“A gente sabe que a carne bonina, entre a primeira e a segunda, a gente tem uma relação bem forte com a questão da renda. Subiu à renda, eu vou querer comer carne bovina. Caiu à renda, proporcionalmente o inverso é real”, explica o professor e pesquisador do Cepea/USP.
O real também está muito desvalorizado em relação ao dólar, o que favorece as exportações de carne, principalmente para China. E tem ainda o fator mais importante: nas fazendas estão faltando animais para o abate.
“A gente vem passando por um processo de oferta restrita. Isso é natural do ciclo da pecuária. Tradicionalmente, de cinco a seis anos, mais recentemente de quatro anos, a gente tem movimentos de baixa e alta em termos de oferta de matriz. Mas a gente está passando por um período de restrição de oferta de animal”, explica Thiago Bernardino de Carvalho.
Na casa da aposentada Maria Maranhão de Sousa não entra carne bovina há, pelo menos, seis meses.
“Quando eu vou comer é quando aparece alguém, gente que traz, aí eu faço. Mas para eu comprar mesmo, não dá não. É difícil. Daqui uns dias a gente entra no supermercado e só vem com a sacolinha na mão vazia”, conta.
Por Jornal Nacional
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