Já passava das 22 horas da quarta-feira, dia 08 de setembro de 2021, quando preocupado com o movimento dos caminhoneiros, o presidente Jair Bolsonaro telefonou para Michel Temer, seu interlocutor há alguns meses, pedindo conselhos. Conversaram por quase 20 minutos e Temer aconselhou o presidente a editar um documento para, por escrito, restabelecer a harmonia entre os Poderes.
Temer àquela altura já havia conversado com o ministro Alexandre de Moraes, seu amigo, a quem Bolsonaro havia chamado de “canalha” no 07 de Setembro. Temer avisou a Bolsonaro que havia conversado com Moraes e que o ministro do STF não tinha nada “pessoal” contra o governo ou contra o presidente e que suas preocupações eram jurídicas. Aconselhou ainda Bolsonaro a discutir as diferenças na Justiça. Na quinta (09) de manhã, Bolsonaro voltou a telefonar a Temer, dizendo que mandaria um avião da FAB buscá-lo em São Paulo.
Temer desembarcou em Brasília por volta do meio-dia e já chegou com um esboço do documento divulgado há pouco pelo presidente Jair Bolsonaro, que fez apenas “alguns ajustes”. Durante a conversa com Bolsonaro, Temer foi enfático ao dizer que o documento precisava ter “peso” e deixar de lado os ataques pessoais e tudo o que saiu da linha institucional no discurso de 07 de Setembro. Foi da lavra de Temer a expressão “no calor do momento”, usada na nota presidencial, e a citação direta a Alexandre de Moraes, necessária para passar a limpo os xingamentos proferidos contra o ministro do STF.
“Alexandre não é inimigo dele e é preciso restabelecer a relação dos Poderes”, disse Temer.
Temer ainda conseguiu colocar Bolsonaro e Moraes em contato, no sentido de tentar restabelecer a esperada “civilidade”. A conversa, porém, é mantida a sete chaves. O “bombeiro” Temer, tarimbado em paciência e diálogo na política, conseguiu esfriar o reator da República. Tanto é que, enquanto conversava com o blog, o ex-presidente foi avisado de que a bolsa voltou a subir.
“Vamos olhar para o futuro. Fiz o meu papel.”
Por Denise Rothenburg / Correio Braziliense.
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