O dono da fábrica clandestina de fogos de artifício, que explodiu em dezembro de 1998, deixando 64 pessoas mortas em Santo Antônio de Jesus, no Recôncavo Baiano, morreu na terça-feira, dia 25 de maio de 2021. O corpo dele será sepultado na manhã desta quarta (26/05), no cemitério da cidade. .
Osvaldo Bastos sofreu um infarto e foi hospitalizado no sábado (22/05). De acordo com a prefeitura da cidade, ele estava internado e aguardava para fazer uma angioplastia, que é uma cirurgia para tirar placas de gordura de artérias entupidas no coração. Conhecido como “Vado dos Fogos”, ele está sendo velado desde o início da manhã desta quarta (26) e o sepultamento estava marcado para às 10 horas.
⇒20 anos da explosão:
Em 2018, a maior tragédia envolvendo uma fábrica de fogos de artifício na Bahia completou 20 anos. Parentes de vítimas e sobreviventes fizeram um protesto em frente à sede do Ministério Público da Bahia (MP-BA), em Salvador. A manifestação reivindicou punição aos responsáveis pela fábrica clandestina. Cinco pessoas foram condenadas a prisão, em júri popular realizado em 2010, incluindo Osvaldo. No entanto, nenhum dos condenados foi preso.
⇒Tragédia:
A explosão ocorreu pouco depois das 11 horas do dia 11 de dezembro de 1998. Os homens ficavam em um local fabricando as bombas, enquanto as mulheres ficavam em uma área mais acima, amarrando os traques de pólvora. Foram as mulheres e as crianças as maiores vítimas da explosão. De acordo com as investigações da época, no momento da explosão, havia 1,5 tonelada de pólvora no local.
A mãe de Vitória França, Rosângela França, que na época tinha 17 anos, morreu na explosão, quando estava grávida de cinco meses de Vitória. O fato da menina ter conseguido sobreviver com apenas cinco meses de gestação foi considerado um milagre, e Vitória se tornou o símbolo do ocorrido. Ivana Dias, esposa de um amigo de Rosângela, que havia dado à luz seis meses antes, pegou Vitória para amamentar e a acabou criando a menina.
“Eu estava recém parida. Minha filha estava com seis meses de nascida, ela veio para a mão da gente, e eu me tornei mãe, porque dei mama, cuidei como se fosse minha, e cuido até hoje”, conta Ivana.
Apesar de não ter conhecido a mãe, por causa da tragédia, Vitória diz preferir olhar para a frente.
“Deus foi até bom comigo. Me deu uma mãe, me deu uma avó, me deu uma irmã e acabou. Eu estou feliz assim”, diz a menina, que destaca que não se deve esquecer do ocorrido.
“A gente tem que aprender a recomeçar. O passado nunca vai ser esquecido, mas a gente tem que seguir em frente”, afirma.
⇒Justiça:
Em 1999, o Ministério Público da Bahia entrou com medida cautelar para bloquear os bens dos responsáveis pela fábrica clandestina. Em 2013, foi fechado um acordo para pagamento de indenizações às famílias das vítimas, contudo o acordo foi descumprido. Em 2016, um novo acordo foi feito, mas segundo a promotora Aline Coutrim, só foi pago parcialmente.
“A gente teve que executar esse acordo, então incidiu multa, cláusula penal, e o valor chegou a R$ 1,7 milhão. Depois que o MP entrou com a execução, foi feito um novo acordo do qual foram pagas algumas parcelas, foram pagos três depósitos, foi levado um bem a leilão, e hoje a gente ainda tem de débito que precisa ser quitado de R$ 476 mil aproximadamente”, diz a promotora.
Na esfera criminal, oito pessoas foram a júri popular, no Fórum Ruy Barbosa, em Salvador, no ano de 2010: Oswaldo Bastos Prazeres, o dono da fazenda, quatro filhos dele e três funcionários. Os funcionários foram absolvidos, enquanto Osvaldo e os filhos foram condenados à prisão, com penas que variaram entre 9 e 10 anos. Na época, a reportagem tentou contato com os advogados atuais dos acusados, mas não obteve sucesso.
Por G1 Bahia.
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